Perda bilionária

Os produtores brasileiros desperdiçam 1,95 saca de soja por hectare no processo de colheita, o equivalente a 2,1 milhões de toneladas nesta safra. Resultado: perderão (deixarão de ganhar) R$ 2,4 bilhões este ano.




Gianni Di Raimo é um produtor antenado com as principais novidades da atividade agrícola. Filho de imigrantes italianos da região do Lazio, ele não dispensa maquinário de primeira linha e irriga 37% dos 612 hectares de soja da família, distribuídos em três propriedades (fazendas Aliri e Santa Lúcia e sítio São João) no município de Cruzália, no Vale do Paranapanema, oeste paulista, próximo da divisa com o estado do Paraná. No entanto, não vinha conseguindo desempenho satisfatório com suas colheitadeiras. Ele via uma quantidade expressiva de grãos caídos no chão ou em vagens não colhidas após a passagem das máquinas, mas desconhecia a causa, não fazia ideia do prejuízo econômico (quanto deixava de ganhar com tal desperdício) nem sabia como resolver o problema. Até que, nesta safra, recebeu a visita de técnicos do Rally da Colheita, promovido pela APDVP – Associação de Plantio Direto do Vale do Paranapanema com o propósito de, justamente, mensurar perdas durante a colheita e orientar produtores e operadores quanto aos procedimentos para evitá-las. Di Raimo obteve, então as respostas: sua operação mecânica de colheita estava desperdiçando duas sacas (60 kg cada) de soja por hectare, o dobro do limite tolerado pela Embrapa. Considerando o preço da saca na região (R$ 70 na ocasião) e seus 612 hectares cultivados, esta diferença equivale a R$ 42.840, valor que ele perderia caso a equipe do Rally não o tivesse visitado no início dos trabalhos de colheita – por sorte, ele conseguiu evitar a maior parte do prejuízo: “Não havia custos (o apoio técnico da APDVP é gratuito) e concordei com o trabalho. A equipe fez a amostragem com três colheitadeiras em uma área do Sítio São João e todas apresentaram o mesmo nível de perda. Em outro momento, os técnicos voltaram à propriedade e o quadro não foi diferente”, conta.

Mais do que constatar o volume de grãos que estava ficando pela lavoura, o agricultor conseguiu estancar o sangramento até o limite de perdas definido pela Embrapa, de uma saca/ha.
“Detectamos que havia corte irregular nas plantas de soja. Fizemos o ajuste de sensibilidade das plataformas e sugerimos a redução da velocidade de operação (de 6,5 para 5,5 km/hora) em três máquinas. Em uma delas, orientamos o produtor a trocar a barra de corte, procedimento rapidamente atendido”,conta o supervisor de equipe do Rally, Jorge Benigno Neto, diretor- -executivo da APDVP. Di Raimo (que também planta milho, trigo, feijão e adubação verde em rotação) diz que mantém parcerias com fabricante de máquinas agrícolas: “Alguns modelos ficam comigo por até quatro anos. Ao final desse tempo compro por 60% do preço original, em média. Minhas terras acabam funcionando como uma espécie de fazenda experimental”. Suas colheitadeiras já foram avaliadas anteriormente por empresas de porte como a Fatec – Faculdade de Tecnologia Shunji Nishimura, de Pompéia (SP), mas não da forma como o fizeram os integrantes do Rally: “Além dos ajustes nos equipamentos e da contagem de perdas, eles me explicaram os procedimentos e me ensinaram o que fazer”.

Dinheiro perdido De acordo com a Embrapa, o nível de desperdício enfrentado por Di Raimo antes da visita do Rally da Colheita é a média padrão nas lavouras de soja do Brasil, ou seja, duas sacas/ha, uma acima do tolerável. “Trabalhando apenas com esta diferença, nossa estimativa é de que o Brasil desperdice anualmente R$ 2,4 bilhões em soja somente no processo de colheita. Para este cálculo, consideramos uma área plantada de 35 milhões de hectares e a saca a R$ 69”, explica o pesquisador José Miguel Silveira, da Embrapa Soja, orientador do Rally e responsável pelo acompanhamento e aperfeiçoamento da técnica de mensuração de perdas desenvolvida ainda nos anos 1980 pelos pesquisadores César Mesquita e Celso Gaudêncio, também da Embrapa Soja. Por esse cálculo, a quantidade perdida seria suficiente para deixar nas mãos de cada brasileiro pouco mais de 10 quilos de soja por ano (com base em uma população de 208,7 milhões de habitantes, conforme projeção do IBGE em 20/3/2018, e 2,1 milhões de toneladas de soja desperdiçadas).

Fonte: PortalDBO.com.br

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